Pais!
Porque nunca dediquei nenhum post aos meus pais e eles até merecem...
Os meus pais vieram de famílias problemáticas.
A mãe do meu pai suicidou-se quando ele ainda era pequenino e o pai do meu pai era alcoólico.
Com uns pais assim o meu pai ficou a cargo das tias. Uma criança pequena com dificuldades na fala por causa de um parto mal feito, sem mãe e com um pai alcoólico teria que ficar a cargo de alguém. Enquanto pequeno foi criado – e excessivamente mimado – pelas irmãs da minha avó mas logo que foi possível elas colocaram-no num colégio interno a fim de lhe conseguirem incutir os estudo que ele tinha decidido rejeitar. Contudo, sem sucesso, aos 18 anos ele decidiu ir trabalhar. Trabalhou aqui e ali, sem um sítio certo ou a longo prazo...
Já a minha mãe teve uma história um pouco diferente mas igualmente complicada.
Lembro-me dela contar que era filha única do casamento dos meus avós, embora haja mais filhos de um anterior namoro da minha avó.
Naqueles tempos a vida era outra e as pessoas tinham outras mentalidades. Diziam que só os rapazes tinham o direito de ir á escola e que a função das raparigas era ficar em casa com a mãe!
Então, desde pequena que a minha mãe acompanhava o meu avô para a fazenda e quando ele não queria ir, obrigava-a a ficar em casa a ajudar a minha avó.
Esta vítima de um marido igualmente alcoólico que não colocava comida na mesa sem ser para ele próprio, lá tentava proteger a minha mãe da forma que lhe era possível. Não conseguindo fazer mais enviou-a para a casa de uma Sra. "rica". Assim, com 14 anos já a minha mãe estava a servir em casa de outras pessoas...
Naquela altura não se recebia mais do que cama, comida e roupa lavada mas, vendo bem, era mais do que recebia na sua própria casa e por isso lá foi ficando até conhecer o meu pai.
Nunca percebi bem como se conheceram – porque os próprios já não têm a certeza. Foi uma amiga ou uma familiar ou outra pessoa qualquer que tinham em comum que os apresentou.
Foram namorando aos poucos até que a minha mãe ficou grávida da minha irmã. Gravidez propositada dizem eles (primeiro sinal de irresponsabilidade, digo eu!). Posto isso, mudaram-se para a casa de uma tia do meu pai e depois foram para a casa do meu avô paterno.
O meu pai continuou durante muito tempo com trabalho incerto (posteriormente foi-lhe atribuída uma pensão por deficiência devido a dificuldade em falar) e a minha mãe estava grávida da minha irmã e não tinha trabalho. Não sei bem como mas assim viveram numa casa sem condições. Cerca de um ano depois do nascimento da minha irmã, a minha mãe fica grávida de mim – desta vez acidentalmente.
Se as coisas até então não estavam muito fáceis, com o meu nascimento não melhoraram, logicamente.
Aos poucos a casa foi sofrendo alterações – embora ainda falte muito para ser a casa que qualquer um de nós idealizava. O trabalho do meu pai continuou incerto e a minha mãe dedicou a vida a cuidar das filhas. No entanto, a bem ou a mal foram conseguindo manter tudo…até hoje.
Não estou a contar isto para provocar algum tipo de pena ou algum sentimento semelhante a quem quer que seja, muito pelo contrário! Apenas quero demonstrar que, embora eu tivesse feito escolhas diferentes, estou muito orgulhosa do percurso dos meus pais. Já deram muitas cabeçadas. Já sofreram muito. Já discutiram bastante. Mas continuam juntos e unidos!