Sempre tive uma relação complicada com o meu pai. Eu gosto dele e acredito que ele goste de mim. Mas há um lado dele, uma falha na sua personalidade, da qual eu não consigo adaptar-me ou aceitar.
Desde sempre fui uma miúda bem comportada. Tive uma adolescência típica mas nada fora do normal, suponho. Nunca dei problemas na escola, nunca tive más notas, nunca apareci grávida em casa, sempre fui poupada e não sou de esbanjar dinheiro, nunca fui de andar a saltar de trabalho em trabalho, etc. Mas mesmo assim para ele há sempre algo a apontar, por mais que eu me esforce. E mesmo depois de conseguir concretizar aquilo a que me tinha proposto não é capaz de admitir que não tinha razão.
Quando eu arranjei trabalho ele disse-me que aquele trabalho não era para mim e que não me iria conseguir aguentar lá muito tempo. Mas de facto aguentei! Vai fazer 6 anos em Fevereiro e não há previsão de eu ser despedida (a não ser que a empresa feche de vez). Aliás, para além desse trabalho que tenho de 2ª a 6ª, tenho um outro onde vou aos sábados de manhã e já tive também um onde ia aos fins de semana á tarde (esse sim fechou e, consequentemente, fomos todos despedidos). Consegui conciliar 3 trabalhos mais de 3 meses e actualmente continuo a conciliar 2 trabalhos e nem assim ele dá tréguas.
Quando fui tirar a carta disse-me logo que eu não iria ser capaz. Não me deu a mínima força ou apoio. Desde o primeiro dia disse que eu não ia ser capaz. É certo que não conclui tudo á primeira mas consegui já vai fazer 5 anos! Nunca pedi um único cêntimo para tira-lá. Paguei-a toda com o dinheiro do trabalho que ele dizia que eu não ia conseguir manter!
Comprei todos os meus carros com o meu dinheiro! Cêntimo por cêntimo. Embora os carros tivessem em nome dele (o seguro era escandalosamente mais barato por causa dos anos de carta) foram todos pagos por mim! E assim que tive o meu grande acidente em vez de me apoiar só me deitava a baixo. Dizia que não ia conseguir pegar mais num carro e que era melhor não comprar mais nenhum porque ia ficar parado á porta, etc.
Para este ultimo carro tive que recorrer a crédito para o pagar. Não podia continuar a trocar de carro ano após ano e era isso que iria acontecer se continuasse a comprar carros daqueles valores naqueles estados. Ou gastava fortunas nos carros para recupera-los (e acabavam por já não valer os arranjos) ou comprava um em condições! E foi o que fiz. Surgiu uma óptima oportunidade e eu aproveitei. Comprei um carro de 2009 a um valor muito abaixo do valor de mercado apenas e só porque trabalho num stand e tenho facilidades em descobrir estas oportunidades antes dos outros. Lá fui eu meter os papeis todos para o crédito e mais uma vez ele disse-me que eu nunca iria conseguir paga-lo. Não há um único mês que ele não me pergunte quanto tempo falta para acabar de o pagar, como se fosse ele a arcar com a despesa. Nunca lhe pedi um único cêntimo para pagar o crédito e continua a ser pago a tempo e horas. Já vai fazer 3 anos
Fiz a minha primeira viagem de avião sozinha em 2011. Por impulso, um daqueles que não se explicam, cedi ao pedido de um amigo e fui ter com ele a São Miguel. A viagem estava barata, era numa época que podia tirar férias no escritório, lá fui eu. E até ao ultimo minuto ele dizia que eu não conseguia ir. Mesmo quando me estava a despedir da minha mãe só o ouvia dizer "não vale a pena, ela daqui a uma hora está cá em casa de novo porque não consegui ir!" mas fui! Fui dessa vez e já fui outra com o M.C. e iremos lá voltar muitas mais vezes de certeza.
Agora vamos mudar de casa. Em breve. Foi-nos "oferecido" um apartamento óptimo, com boas condições, perto do trabalho de ambos, a um preço fantástico. Se tudo corresponder á oferta, é de loucos recusar. Assim que avisei em casa a única reacção que tive dele foi "De renda? Deitar dinheiro á rua, portanto! Mais valia fazerem obras aqui e mudarem-se para cá!" nem um pingo de orgulho em mim foi demonstrado. A única coisa em que pensava era que mais valia irmos morar para ao pé deles onde não há condições nem para eles quanto mais para mais um. Onde não há conforto para ninguém. Sem contar com o facto de preferir, desde sempre, ficar "longe" dos meus pais e dos pais do M.C. Sempre ouvi dizer que quem casa quer casa e estou de acordo a 100% com essa afirmação! E, se não há possibilidades de comprar casa, aluga-se!
Estou certa de que ele nem sempre faz isto por mal mas, sempre que eu preciso do apoio do meu pai, ele faz tudo menos apoiar-me! Todos os dias eu esforço-me para o fazer ficar orgulhoso de mim mas nada é demonstrado. No entanto, assim, sem saber, ele está a ser o meu exemplo. Exemplo de quem eu não quero ser para os meus futuros filhos!