Exmo. Sr Presidente,
Você não me conhece. Não porque não tenha tentado contacta-lo por diversas outras formas mas porque ninguém da “sua” Câmara me deixa chegar a si.
Eu chamo-me Susana Silva. Nasci à 27 anos em Torres Vedras, Lisboa e trabalhava à 7 anos com óptimos patrões que deixei para trás porque vim para a “sua” cidade em busca de uma vida nova.
Em Setembro mudei-me para São Miguel com o meu noivo para abrir uma pequena loja de roupa na Rua Carvalho Araújo - Tendência Azores. Arriscamos tudo o que tínhamos para abrir em Ponta Delgada algo que achávamos que faria falta aos “seus” cidadãos: uma loja de roupa de qualidade a baixo custo.
Podíamos ter aberto este tipo de loja em qualquer cidade do Continente, sabe Sr Presidente? Mas quisemos vir para São Miguel. O meu noivo quis regressar as origens e eu vim com ele. Era importante que abríssemos o nosso primeiro estabelecimento na cidade onde ele nasceu e de onde partiu ainda novo.
Assim que cá chegamos quisemos fazer tudo direito. Fomos à Câmara saber o que seria necessário para abrir o estabelecimento, comunicamos às entidades devidas que iríamos abrir e fizemos todos os requerimentos necessários para fixação de publicidade e ocupação de via publica.
Enquanto a resposta aos requerimentos não chegava utilizámos as redes sociais como forma de chegar a muitos habitantes, colocamos cartazes em estabelecimentos cujos donos autorizavam, colocamos flyers em carros e até os entregamos de mão em mão. Também fizemos parcerias com estabelecimentos de cá e organizamos eventos pontuais. Empenhamos-nos para nos dar a conhecer ao máximo de pessoas possível.
Passado um mês de contactos quase diários com a loja do cidadão da Câmara, obtivemos a resposta de que os requerimentos tinham sido rejeitados. O Sr arquitecto Pedro Garcez tinha-o aconselhado a rejeitar os nossos pedidos porque as placas direccionais e os cavaletes que estávamos a pedir para colocar ficavam demasiado longe do estabelecimento ou ocupavam demasiado espaço da via pública. Recomendavam ainda que os ditos cavaletes fossem colocados nas imediações do estabelecimento.
Não compreendendo esta resposta, fui a Câmara para falar pessoalmente com o Sr arquitecto. Isto porque, se estávamos a pedir para colocar informações na cidade para indicar às pessoas como chegar ao nosso estabelecimento, cavaletes nas imediações do mesmo não fariam qualquer sentido. Se as pessoas estavam a ver os ditos cavaletes era sinal de que já estavam à nossa porta, não é Sr Presidente? Então, para que é que seria necessário cavaletes com mapas ilustrativos à porta?!
Interroguei o Sr arquitecto sobre isso mesmo e ele respondeu-me que nenhuma cidade do país autorizaria o que nós estávamos a pedir. Se me permite, Sr Presidente, tive vontade de rir quando ouvi esta resposta. Rir até me doer a barriga. E rir-me-ia se a situação não fosse tão grave.
Pergunto-lhe a si, Sr Presidente, já percorreu as rua de Lisboa? Do Porto? Quantas placas direccionais, cavaletes ou outro tipo de publicidade viu pela rua? Duvido que a sua resposta seja nenhum.
Interroguei ainda o Sr arquitecto sobre outros cavaletes que tinha visto, a fim de perceber qual era o critério para alguns comerciantes poderem coloca-los e outros não. Apenas um estava legal, mas que, segundo o Sr arquitecto, lhe iria ser retirada a licença. Os restantes teriam ordem imediata para retirar. Realmente nisso o Sr arquitecto foi correcto, tenho que admitir, esses cavaletes ilegais nunca mais os vimos. Contudo retirar a licença ao outro não seria um erro, Sr Presidente? Isto porque este tipo de meio de publicidade é, por vezes, o único meio de se conseguir cativar e convidar as pessoas a entrar nas lojas. Retirar um dos poucos meios que uma loja tem para se fazer notar entre tantas, não será uma forma de lhe acelerar o encerramento? Não será uma forma de acelerar o empobrecimento do comércio tradicional?
Optamos ainda por lhe escrever uma carta a pedir que reconsiderasse na sua decisão. Pedíamos apenas que voltasse a ler os requerimentos e nos desse alternativas, caso continuasse a achar que o que lhe pedíamos não era viável. Passado umas semanas recebemos uma carta da Câmara em resposta ao nosso pedido. Esta dizia que a decisão anterior se mantinha. Chegou a ler a nossa carta Sr Presidente? Claro que não. Ambos sabemos que não. Sabe que sabemos que a carta foi de imediato arquivada junto ao processo dos requerimentos? Sabe que sabemos que essa carta nunca chegou sequer à sua secretária, mesmo sendo dirigida a si?
Entretanto, ao ver-nos limitados na forma de chegar às pessoas, optamos por fixar flyers em alguns locais onde já havia cartazes e autocolantes de outras empresas e outras entidades partidárias. Curiosamente dois dias depois de o termos feito tínhamos um policia à porta para aplicar uma multa por fazermos publicidade sem licença. Ao sermos confrontados com essa situação fui de imediato à Câmara pedir a tal licença que nos permitisse continuar com a fixação de forma legal. Contudo, por incrível que possa parecer não há licença para este tipo de publicidade, sabia Sr Presidente? Assim sendo todos os outros flyers e autocolantes que estavam onde colocamos os nossos estão ilegais também. Pergunto-lhe, Sr Presidente, também foram aplicar multas a todos os outros? Porque nós continuamos a ver toda a publicidade de todos os outros nos mesmos sítios onde estava a nossa, só a nossa é que já não está lá.
Sabe porque é que fomos de imediato à Câmara pedir essa licença, Sr Presidente? Porque no dia seguinte à fixação dos flyers vimos resultados. Tivemos clientes acima do normal e muitos deles referiam que nos tinham encontrado porque viram o mapa nos nossos flyers. Perante isso, Sr Presidente, porque é que não cria este tipo de licença? Nós estávamos dispostos a pagar por ela caso isso nos permitisse chamar a atenção dos clientes para a nossa loja como aconteceu. E, tal como eu, acredito que muitos outros estabelecimentos que o fazem de forma ilegal também estariam dispostos a pagar essas licenças caso continuassem a ver resultados.
Após saber de tudo isto quis perceber então como é que existem tantos cavaletes para vender bilhetes para espectáculos, peças de teatro, corridas e informações publicitárias espalhados pela cidade. Sabe o que me responderam, Sr Presidente? Que aqueles cavaletes são vossos, que aqueles cavaletes são da Câmara e que isso por si só já seria motivo suficiente para poderem estar lá a ocupar a via publica. Ao que eu lhe pergunto, Sr Presidente, a Câmara não deveria dar o exemplo aos seus comerciantes? Isto porque em última analise, todos aqueles cavaletes têm o mesmo propósito que os que nos foram negados: fazer publicidade e obter receitas provenientes disso. Ou estou errada, Sr Presidente?
Com conhecimento de todas estas injustiças tentamos marcar uma reunião consigo. Queríamos poder explicar-lhe tudo isto cara a cara. Sabe porquê, Sr Presidente? Porque todos nos dizem que é uma pessoa justa e correcta. Contudo, marcar uma reunião consigo parece ser muito mais difícil do que inicialmente se previa. Eu estive à 15 dias com a sua secretária para o fazer. Por aconselhamento prévio disse-lhe que queria marcar uma reunião consigo por causa de um estabelecimento comercial que possuía. Indiquei-lhe apenas e só o meu nome e a rua. A sua secretária, claro, fez o “papel” dela. Disse que o Sr Presidente tinha uma agenda muito preenchida e que seria difícil marcar a dita reunião. Que demoraria sempre uns 15 dias até ter uma resposta.
Como é normal, não tínhamos esperança de ter uma resposta no dia seguinte mas esperávamos, pelo menos, ter uma data passado 15 dias, como a sua secretaria indicou. Mesmo que essa data fosse para dali a um mês. No entanto, 15 dias depois não tínhamos nem uma data, nem uma resposta, nem um telefonema. Passados 15 dias continuávamos sem nada. Posto isso, fui novamente falar com a sua secretária. Fui perguntar-lhe porque é que ainda não tinha uma resposta. Sabe o que ela me disse, Sr Presidente? Que não tinha nada contra mim, que não era nada pessoal até porque não me conhecia de parte nenhuma e que a reunião apenas não tinha sido marcada porque havia mais pessoas antes de mim para falar consigo, porque havia coisas mais urgentes para tratar e porque eu já tinha uma resposta do Sr arquitecto Pedro Garcez.
Curioso, não é? Ela saber que eu já tinha uma resposta do Sr arquitecto se eu só lhe tinha dado o meu nome e a minha morada. Sabe o que é que a sua secretária sabia mais, Sr Presidente? Sabia também que eu tinha tido o policia à porta e sabia o motivo porque ele tinha lá ido. Interessante, não é? Talvez fosse normal ela saber tudo isso se eu lhe tivesse explicado porque queria falar consigo mas, só lhe dando o meu nome e a minha morada? Não me diga que a sua secretária tem assim tão pouco para fazer que lhe permita ter tempo livre para explorar todo o histórico dos cidadãos da cidade antes de marcar uma reunião consigo, Sr Presidente?
Contudo, sinceramente, neste momento, pouco me importa se ela sabia de tudo isso ou não, pouco me importa também que o Sr arquitecto tenha rejeitado os requerimentos. Sabe porque Sr Presidente? Porque já nada disso importa quando pensamos constantemente em fechar a porta e ir embora.
É difícil tomar uma decisão destas, sabe Sr Presidente? Voltarmos para o Continente passados três meses e admitir que erramos quando sabemos que a culpa não foi nossa. É difícil encarar as pessoas que nos desaconselharam a vir para cá e admitir que elas tinham razão, principalmente porque nós sabemos que nós também tínhamos razão. Sabe porquê Sr Presidente? Porque todos os dias temos um bom feedback dos nossos clientes e, só por isso, faz-nos acreditar que estávamos certos quando decidimos vir para cá abrir a loja. Porque todos os dias temos pessoas a dizer que uma loja destas fazia cá falta. No entanto passados três meses também temos pessoas que entram aqui a perguntar se somos novos porque nunca tinham ouvido falar de nós. Ainda temos pessoas nas redes sociais a perguntar onde nós estamos porque nem sequer conhecem a rua. Passados três meses ainda temos pessoas a dizer que “percorreram metade a ilha” à nossa procura.
Sabe como tudo isto se resolvia, Sr Presidente? Com mais autorizações, com mais licenças, com mais permissões. Se nos tivesse permitido fazer algo que nos desse alguma visibilidade, como tantas outras Câmaras de tantas outras cidades permitem aos seus comerciantes, talvez tivéssemos melhores resultados e mais feedbacks positivos.
Espero que perceba que isto não seria apenas bom para a nossa loja. Isto que lhe peço seria bom para tantos outros comerciantes da cidade também. Seria, igualmente, bom para o comércio tradicional. E seria, consequentemente, bom para a “sua” Câmara, não é Sr Presidente? Porque licenças e autorizações geram dinheiro. Geram verbas para a Câmara. Ou a Câmara de Ponta Delgada está em tal “superávit” que não precise de mais verbas?!
Após passar por todo este problema percebemos agora porque é que existem tantas lojas fechadas em Ponta Delgada, sabe Sr Presidente? E, infelizmente, notamos que a Câmara é uma das causas. No entanto, temos esperança, Sr Presidente. Temos esperança que esta carta chegue até si de alguma forma. Temos esperança também que o Sr Presidente seja realmente justo e correcto como tantas pessoas nos dizem. Temos esperança de conseguir, finalmente, falar consigo e pudermos explicar-lhe tudo isto.
Caso queira, poderá sempre procurar-nos também. Estamos todos os dias na Rua Carvalho Araújo. Será sempre bem vindo. Isto, claro, se ainda permanecermos abertos.
Com os melhores cumprimentos
Susana Silva