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Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Cada vez penso mais em voltar...

A cada dia que passa parece que a ideia de termos vindo para Ponta Delgada foi um erro redondo.

 

No inicio todos apoiaram, todos diziam que ajudavam no que fosse preciso, todos incentivavam. Mas agora, passado pouco mais de 6 meses, já não é bem assim. 

 

Cada vez mais há quem nos diga que devíamos voltar e abrir a loja lá. Cada vez mais surgem situações no Continente e que não conseguimos resolver porque estamos aqui e ninguém quer tentar resolver ou simplificar para nós. Cada vez mais menos pessoas se dispõem a ajudar como no inicio.

 

Todos os dias acordamos com a vontade de voltar para casa. Todos os dias descobrirmos algo que ficaria facilitado se estivemos no Continente. Todos os dias nos levantamos com vontade de apanhar o próximo avião de volta.

 

Será possível tamanho arrependimento? Sempre ouvi dizer que tudo serve de aprendizagem e esta foi uma das grandes! Com isto aprendemos que não podemos contar "eternamente" com alguém. Aprendemos a valorizar tudo o que temos ao nosso dispor mesmo ao pé de nós. Aprendemos a valorizar quem lutou por isto tal como nós, dia após dia.

 

Depois da aprendizagem resta-nos levantar a cabeça e arrumar as malas. Preparar o espírito para as bocas e as perguntas que se avizinham e dar a mão à palmatória de quem realmente tinha razão.

 

Esta aventura chamada Tendência Azores, já tem os dias contados e agora resta-nos esperar. Não posso dizer que foi bom mas posso dizer que valeu a pena. Pelo menos torno-nos mais fortes e mostrou-nos que juntos vamos mais longe, mesmo que depois seja preciso voltar para trás.

Não compreendo!

Estamos no final da grande festa do arquipélago. Todas as ilhas vêm para Ponta Delgada. Açorianos a viver no Continente vêm para Ponta Delgada. Açorianos a viver na América vêm para Ponta Delgada.

 

É o ponto alto da ilha. É quando todos os emigrantes voltam as suas raízes. É onde todos se encontram. É quando todos tentam mostrar a todo o custo que têm orgulho em ser desta ilha.

 

É também quando se vê coisas que nunca hei-de compreender. Coisas tais como:

* ser açoriana e afirma-lo onde quer que entre

* ter tatuagens em todo o corpo com o nome "Açores" / "Azores" ou com símbolos relacionados com a ilha

* comprar coisas que apenas façam lembrar a terra Natal. Coisas com golfinhos, cachalotes, palavra "Açores", etc

E depois fazer algo completamente contraditório:

* Falar inglês com os familiares que também são açorianos e, como tal, também percebem português

* Nunca ter ensinado uma palavra portuguesa aos filhos, sabendo falar apenas inglês

 

Tanto orgulho nacional para depois fazer figuras destas? Não compreendo!

Hoje, nesta loja, é rir para não chorar!

- Boa tarde menina, disseram-me que é aqui que aceitam roupa usada.

 

- Boa tarde. É verdade. Nós temos uma parceria com a Cruz Vermelha e, as pessoas ao deixarem cá roupa que não usam, recebem um vale de desconto de 10% para depois poder comprar roupa nova na nossa loja.

 

- Ah, é assim. É que eu vou explicar. A minha nora mandou-me este casaco de oferta do Continente (tirando um grande casaco de pele de um saco) mas eu não gosto dele.

 

- Então, se estiver interessada pode deixa-lo para doar à Cruz Vermelha e pode usar o vale numa compra que fizer agora ou pode guarda-lo para usufruir no espaço de 3 meses.

 

- Doar? Não! Eu quero vendê-lo!

 

- Ah, mas nós não compramos. Só recebemos a roupa que as pessoas não querem mais. Ou seja, é como ir fazer a doação à Cruz Vermelha, a única diferença é que indo lá não recebe nada em troca e vindo aqui recebe o vale para descontar numa compra.

 

- Ai, não estou a perceber nada! Vocês não compram?

 

- Não.

 

- Então mas quanto é que acha que vale este casaco?

 

- Não faço ideia minha senhora.

 

- Então, mas você tem aqui roupa, deve saber avalia-lo para poder dar-me o desconto!

 

- A senhora não está a perceber. Nós não atribuímos o desconto consoante o valor das peças cá deixadas. A senhora pode cá deixar 1 peça ou 20 peças que o desconto é atribuído pelo seu gesto, como forma de agradecimento pela sua contribuição.

 

- Não estou a perceber nada. Explique lá isso melhor.

 

- Qual é a sua confusão?

 

- Não percebo nada. Dê-me um exemplo!

 

- Ok. Imagine que a senhora deixa cá uma serie de peças suas que já não quer (sem ser o casaco, visto que o quer vender!). Como agradecimento pelo seu gesto tem direito a um vale de 10% de desconto para gastar aqui na minha loja. Ou, ao deixar as suas peças faz logo a compra e no acto do pagamento eu faço o desconto imediato, o deixa as peças e leva o vale para gastar num prazo de 3 meses.

 

- Eu levo o vale!

 

- Certo. Então a senhora deixa as roupas e eu dou-lhe um vale de 10% de desconto para usar mais tarde.

 

- E depois?

 

- Imaginemos que passado um mês a senhora vem cá à loja outra vez e escolhe uma serie de peças nossas para comprar num valor de 50€, por exemplo, para serem números redondos. Quando vier pagar apresenta o vale e em vez de pagar os 50€ paga 45€ porque tem o desconto dos 5€ do vale, que são os 10% da compra total. Percebe?

 

- Não. Então eu deixo a minha roupa e ainda tenho que pagar?

 

- Deixa a roupa que já não usa e paga o valor que sobra depois do desconto do vale.

 

- Isso não é um negócio muito bem feito! Não acho justo! Então deixo o meu casaco novo e ainda tenho que pagar para levar roupa? 

 

- Se não quiser usar o vale não é obrigada a usar. Pode apenas deixar cá a roupa e nós fazemos ela chegar à Cruz Vermelha na mesma.

 

Nisto já o MC, já farto de rir no armazém, aparece para tentar ajudar e elucidar a senhora.

- O que se passa?

 

- A senhora queria vender o casaco e eu estou a explicar-lhe que não compramos, só aceitamos roupa para a campanha da Cruz Vermelha.

 

- Mas isso não é um negócio muito bem feito, senhor. Se eu fizer isso estou a perder com o vosso negócio! Já viu bem o casaco?

 

- O que a senhora pode fazer é ir a loja de 2ª mão que há mais acima na rua.

 

- Ai há uma loja que compra coisas nesta rua? E como é que funciona, deixamos lá e pagam logo ou pagam quando venderem?

 

- Isso já não sei, só sei que existe essa loja mais no cimo da rua.

 

- Pronto já não é mau. Já me soube dizer alguma coisa!

 

A senhora saí a nossa porta e encontra a cusca do café do nosso lado, que estava à porta já para ouvir o que se passava, e pára para pedir um cigarro.

- A senhora tem um cigarro que me dê?

 

- Não, não fumo.

 

- Mas já viu o negócio destes seus vizinhos? Quem cair nesta conversa vai estar a perder! Olhe o que é deixar este meu casaco e ainda ter que pagar para comprar na loja deles! Onde já se viu? Olhe bem para o casaco, é bonito e está novo, eu é que não gosto dele! Prefiro outro estilo. Mas não vou deixa-lo aqui e ainda ter que pagar. Era o que mais faltava!

 

 

Conclusão, passado uns 10 minutos a explicar a mesma coisa à senhora ela ficou sem perceber nada e ainda foi falar mal à cusca do lado! 

Expliquei assim tão mal?! Hoje só me calham duques!

 

E não podia ter o MC entrado logo e dito que havia uma loja de 2ª mão ao cimo da rua?! Poupava-me a isto tudo...

O que se faz?

Sou completamente contra qualquer tipo de violência. Não o admito à minha frente e faço o que for preciso para o impedir! Mas, e quando a pessoa continua a sujeitar-se à violência mesmo depois de a termos defendido e alertado várias vezes?

 

Não quero permitir que volte a acontecer no entanto o que se faz quando se defende a pessoa do agressor, aconselha-se a pessoa sobre o que acabou de acontecer, faz-se recomendações sobre as alternativas que tem e, passado nem 10 minutos, essa pessoa volta a estar junto ao agressor apenas e só porque ele lhe disse que gosta dela, está arrependido e não voltará a acontecer?

 

Até à data foram apenas puxões de cabelo, apertos nos braços que deixaram, talvez, nódoas negras causadas durante discussões sem nexo. No entanto, seja como for, foram agressões! Quem sabe o que poderá ser se ninguém aparecer a tempo? Sem falar da violência verbal. Essa violência tão difícil de travar e dominar. 

 

O que se faz? Chamar a policia seria o mais indicado, bem sei, mas de que serve se a vitima não quer fazer queixa? De que serve se a vitima acredita nas promessas do agressor - pelo menos até á agressão seguinte. Permitir não é opção mas defender não serve de nada. O que se faz?

Até quando é aceitável insistir e lutar?

Até quando?

 

"Janeiro é um mau mês. Fevereiro também não é bom, para além de ser pequeno. Março já melhora de novo." Hoje, a 8 de Março só me apetece responder "tens a certeza?"

 

Desde que abrimos que o mês de Novembro foi o melhor. Nem com o Natal conseguimos ter um bom mês. No inicio do ano, com os saldos, não melhorou também. Não até termos decidido colocar tudo a 5€. Toda a loja. Com esta iniciativa sim, vimos melhorias. Aparecia dinheiro até de onde não havia, para alimentar o consumismo desenfreado da ilha. Vendeu-se até peças que não mexemos no preço por já estarem a 5€ anteriormente. Durante uma semana houve movimento que desconhecia nesta rua e, de manhã, fazia-se fila à porta à espera de abrirmos. Durante uma semana todos ouviam fala de nós. Mas só durante uma semana.

 

Quando já não havia muita escolha, havia quem perguntasse pela nova colecção. O que trazia, quando chegava, a que preço estaria. Nós respondemos com toda a informação que disponhamos. Tentamos deixar os clientes curiosos também, para terem vontade de vir ver a nova colecção assim que chegasse. Todos diziam que vinham na semana seguinte para ficar a par das novidades.

Uma semana passou. Hoje já é 3ª feira da segunda semana, até. Onde está a fila a porta para entrar? Onde estão os curiosos que tanto queriam ver a nova colecção? Não sei. 

 

À mais de uma semana que quase ninguém entra nesta loja. À mais de uma semana que fecho a caixa às 20h quase a sempre a 0€. À mais de uma semana que andamos a ponderar até que ponto vale a pena insistir e lutar por esta loja.

 

Se por um lado sabemos que o Inverno é sempre menos lucrativo e que estamos nesta situação porque abrimos mais perto do Inverno do que do Verão, por outro lado temos consciência que todos os dias estamos a enterrar dinheiro que não é nosso numa loja que não sabemos se irá dar frutos.

 

As noticias que nos chegam do Continente é que lá está igual. As pessoas têm frio e não têm vontade de olhar sequer para peças frescas como as da nova colecção. Que não devemos desistir agora porque nas estações quentes é que se vende mais por isso desistir seria morrer na praia. Que basta os dias aquecerem um pouco para notarmos isso nas vendas.

E nós acreditamos que realmente isso seja verdade, no entanto, como é que se pagam contas com esperança? É muito fácil falar quando já se tem um bom fundo de maneio ganho no tempo das "vacas gordas", mas e quando não se tem, como é o nosso caso? O que se faz quando se olha para a conta e não se tem a certeza que haverá dinheiro suficiente no final do mês?

 

O lógico seria mudar de loja. Claro. Para um local de maior passagem, de preferência. No entanto, para onde, se até nisso estamos a encontrar dificuldades? Nunca na vida nos sujeitaríamos a pagar 5000€ de renda mensal por uma loja, esteja ela onde estiver. Com as margens que nós temos teríamos que vender a loja toda 5x por mês só para pagar a renda. E as restantes despesas, quem pagava? Os senhorios pedem rendas inflacionadíssimas! Acho que a maior parte deles nem sequer tem noção do que está a pedir ou do quão seria difícil ganha-lo. É fácil pedir, pode ser que calhe. E se não calhar mantêm-se fechado, pensam eles. E por isso quase toda a ilha tem espaços fechados. Montras despidas. Ruas vazias.

 

Não sei se vamos aqui ficar muito tempo, sinceramente. Não porque o sonho tenha acabado, mas sim porque é impossível manter sonhos em cima de areias movediças.