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Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Está quase!

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Hoje é dia 6. Dia 14 vamos a casa. Vamos ao Continente.

 

Ando a contar os dias.

 

Por mais independente que eu seja (ou tente ser) o colinho da mãe faz sempre falta. O colinho da mãe, a rabugice do pai, as discussões com a irmã. Os amigos e os conhecidos. Quando estamos longe até das rotinas sentimos falta...

 

Mas é já dia 14. Não falta assim tanto, acalma-te!

 

 

Imagem retirada daqui

Heranças familiares!

Na minha terra a minha família é apelidada de "calão". É o J. calão, a S calona, a I calona, o N calão, por ai fora. Sempre fui habituada a ouvir essa alcunha cada vez que se falava da minha família. Julgo que a alcunha surgiu por causa de gerações passadas mas perdurou até aos dias de hoje.

 

Sem saber muito bem o que queria dizer, ainda em pequena, já não gostava da alcunha. Não ouvia ninguém chamar outras alcunhas a outras famílias e não gostava de ouvir essa sobre a minha. Quando já tinha capacidade para perceber fui ver ao dicionário o que a palavra significava e gostei ainda menos dela.

 

Calão: pessoa que não trabalha tanto quanto deveria; descuidado, preguiçoso

 

Eu não me considero uma pessoa assim. Por isso revolto-me facilmente quando ouço o meu nome associado a essa alcunha. Não sei se ela ainda é utilizada para se referirem á minha geração mas gosto de acreditar que não é usada para se dirigirem a mim.

Ainda em pequena, depois de perceber o significado da palavra, esforcei-me para mostrar que não tenho nada haver com ela. Queria ser boa no que fazia para mostrar aos outros que não era assim. Que não condizia com a alcunha. Aliás, hoje em dia até gosto de trabalhar. Não tenho um trabalho que considere o ideal para mim mas isso não me impede de ter gosto por trabalhar e dar tudo o que posso pelo meu local de trabalho. Se for necessário faço horas extra, levo trabalho para casa, chego mais cedo. Faço o que for preciso para que tudo fiquei feito atempadamente e dentro dos prazos. Gosto de ser uma funcionária exemplar. Posso não fazer tudo da forma mais perfeita que existe mas não me podem apontar o dedo por não tentar ou não querer. E ao tentar, tento até ficar bem feito.

 

Tenho noção que por vezes as pessoas aproveitam-se disso para me sobrecarregarem de trabalho, no entanto não me preocupo com isso. Habituei-me desde pequena a ser esforçada e trabalhadora. Imposição de mim para mim. O meu principal objectivo era provar a todos e a mim própria que não era calona. Queria demarcar-me da minha família nesse aspecto.

 

Não sei se consegui provar aos outros mas eu estou satisfeita com o meu percurso e com a minha prestação até hoje.

Cada vez mais tenho a certeza de uma coisa:

Na semana passada:

Eu: Vou passar o 16 para 17 na serra da estrela com o M.C.
Pais: Ok.

Hoje ao sair de casa para ir ter com o meu namorado:
Mãe: Sempre vai a serra da estrela este fim de semana?
Eu: Sim. Não sei é se passo esta noite na casa do M.C. e depois vamos logo depois do meu trabalho ou se venho dormir a casa...
Mãe: Então porque?
Eu: Não dormi nada esta noite. Estou mesmo cansada...
Mãe: Então, se calhar dormes lá. Assim descansas como deve ser e amanhã já acordas melhor para fazerem a viagem...
Eu: Pois, talvez faça isso.


A minha mãe estava mesmo a dizer-me para dormir fora de casa? O que fizeram á minha mãe?!

Cada vez tenho mais a certeza que se eu chegar a casa e disser que vou morar com o M.C. a unica coisa que me vão dizer é: queres ajuda a fazer as malas?

Desabafo #9

É difícil quando damos todo o nosso apoio a alguém e em troca recebemos palavras maldosas e cruéis.

 

Mesmo sabendo que essa pessoa não o faz com intenção ou de forma consciente, as palavras magoam.

Pais!

 

Porque nunca dediquei nenhum post aos meus pais e eles até merecem...

 

 

Os meus pais vieram de famílias problemáticas.

 

A mãe do meu pai suicidou-se quando ele ainda era pequenino e o pai do meu pai era alcoólico.

 

Com uns pais assim o meu pai ficou a cargo das tias. Uma criança pequena com dificuldades na fala por causa de um parto mal feito, sem mãe e com um pai alcoólico teria que ficar a cargo de alguém. Enquanto pequeno foi criado – e excessivamente mimado – pelas irmãs da minha avó mas logo que foi possível elas colocaram-no num colégio interno a fim de lhe conseguirem incutir os estudo que ele tinha decidido rejeitar. Contudo, sem sucesso, aos 18 anos ele decidiu ir trabalhar. Trabalhou aqui e ali, sem um sítio certo ou a longo prazo...

 

 

Já a minha mãe teve uma história um pouco diferente mas igualmente complicada.

Lembro-me dela contar que era filha única do casamento dos meus avós, embora haja mais filhos de um anterior namoro da minha avó.

 

Naqueles tempos a vida era outra e as pessoas tinham outras mentalidades. Diziam que só os rapazes tinham o direito de ir á escola e que a função das raparigas era ficar em casa com a mãe!

Então, desde pequena que a minha mãe acompanhava o meu avô para a fazenda e quando ele não queria ir,  obrigava-a a ficar em casa a ajudar a minha avó.

Esta vítima de um marido igualmente alcoólico que não colocava comida na mesa sem ser para ele próprio, lá tentava proteger a minha mãe da forma que lhe era possível. Não conseguindo fazer mais enviou-a para a casa de uma Sra. "rica". Assim, com 14 anos já a minha mãe estava a servir em casa de outras pessoas...

Naquela altura não se recebia mais do que cama, comida e roupa lavada mas, vendo bem, era mais do que recebia na sua própria casa e por isso lá foi ficando até conhecer o meu pai.

 

 

Nunca percebi bem como se conheceram – porque os próprios já não têm a certeza. Foi uma amiga ou uma familiar ou outra pessoa qualquer que tinham em comum que os apresentou.

 

Foram namorando aos poucos até que a minha mãe ficou grávida da minha irmã. Gravidez propositada dizem eles (primeiro sinal de irresponsabilidade, digo eu!). Posto isso, mudaram-se para a casa de uma tia do meu pai e depois foram para a casa do meu avô paterno.

O meu pai continuou durante muito tempo com trabalho incerto (posteriormente foi-lhe atribuída uma pensão por deficiência devido a dificuldade em falar) e a minha mãe estava grávida da minha irmã e não tinha trabalho. Não sei bem como mas assim viveram numa casa sem condições. Cerca de um ano depois do nascimento da minha irmã, a minha mãe fica grávida de mim – desta vez acidentalmente.

 

Se as coisas até então não estavam muito fáceis, com o meu nascimento não melhoraram, logicamente.

 

 

Aos poucos a casa foi sofrendo alterações – embora ainda falte muito para ser a casa que qualquer um de nós idealizava. O trabalho do meu pai continuou incerto e a minha mãe dedicou a vida a cuidar das filhas. No entanto, a bem ou a mal foram conseguindo manter tudo…até hoje.

 

 

Não estou a contar isto para provocar algum tipo de pena ou algum sentimento semelhante a quem quer que seja, muito pelo contrário! Apenas quero demonstrar que, embora eu tivesse feito escolhas diferentes, estou muito orgulhosa do percurso dos meus pais. Já deram muitas cabeçadas. Já sofreram muito. Já discutiram bastante. Mas continuam juntos e unidos!