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Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Dados Lançados

"I'm not a perfect person. There's many things i wish i didn't do but i continue learning"

Cada vez penso mais em voltar...

A cada dia que passa parece que a ideia de termos vindo para Ponta Delgada foi um erro redondo.

 

No inicio todos apoiaram, todos diziam que ajudavam no que fosse preciso, todos incentivavam. Mas agora, passado pouco mais de 6 meses, já não é bem assim. 

 

Cada vez mais há quem nos diga que devíamos voltar e abrir a loja lá. Cada vez mais surgem situações no Continente e que não conseguimos resolver porque estamos aqui e ninguém quer tentar resolver ou simplificar para nós. Cada vez mais menos pessoas se dispõem a ajudar como no inicio.

 

Todos os dias acordamos com a vontade de voltar para casa. Todos os dias descobrirmos algo que ficaria facilitado se estivemos no Continente. Todos os dias nos levantamos com vontade de apanhar o próximo avião de volta.

 

Será possível tamanho arrependimento? Sempre ouvi dizer que tudo serve de aprendizagem e esta foi uma das grandes! Com isto aprendemos que não podemos contar "eternamente" com alguém. Aprendemos a valorizar tudo o que temos ao nosso dispor mesmo ao pé de nós. Aprendemos a valorizar quem lutou por isto tal como nós, dia após dia.

 

Depois da aprendizagem resta-nos levantar a cabeça e arrumar as malas. Preparar o espírito para as bocas e as perguntas que se avizinham e dar a mão à palmatória de quem realmente tinha razão.

 

Esta aventura chamada Tendência Azores, já tem os dias contados e agora resta-nos esperar. Não posso dizer que foi bom mas posso dizer que valeu a pena. Pelo menos torno-nos mais fortes e mostrou-nos que juntos vamos mais longe, mesmo que depois seja preciso voltar para trás.

Hoje, nesta loja, é rir para não chorar!

- Boa tarde menina, disseram-me que é aqui que aceitam roupa usada.

 

- Boa tarde. É verdade. Nós temos uma parceria com a Cruz Vermelha e, as pessoas ao deixarem cá roupa que não usam, recebem um vale de desconto de 10% para depois poder comprar roupa nova na nossa loja.

 

- Ah, é assim. É que eu vou explicar. A minha nora mandou-me este casaco de oferta do Continente (tirando um grande casaco de pele de um saco) mas eu não gosto dele.

 

- Então, se estiver interessada pode deixa-lo para doar à Cruz Vermelha e pode usar o vale numa compra que fizer agora ou pode guarda-lo para usufruir no espaço de 3 meses.

 

- Doar? Não! Eu quero vendê-lo!

 

- Ah, mas nós não compramos. Só recebemos a roupa que as pessoas não querem mais. Ou seja, é como ir fazer a doação à Cruz Vermelha, a única diferença é que indo lá não recebe nada em troca e vindo aqui recebe o vale para descontar numa compra.

 

- Ai, não estou a perceber nada! Vocês não compram?

 

- Não.

 

- Então mas quanto é que acha que vale este casaco?

 

- Não faço ideia minha senhora.

 

- Então, mas você tem aqui roupa, deve saber avalia-lo para poder dar-me o desconto!

 

- A senhora não está a perceber. Nós não atribuímos o desconto consoante o valor das peças cá deixadas. A senhora pode cá deixar 1 peça ou 20 peças que o desconto é atribuído pelo seu gesto, como forma de agradecimento pela sua contribuição.

 

- Não estou a perceber nada. Explique lá isso melhor.

 

- Qual é a sua confusão?

 

- Não percebo nada. Dê-me um exemplo!

 

- Ok. Imagine que a senhora deixa cá uma serie de peças suas que já não quer (sem ser o casaco, visto que o quer vender!). Como agradecimento pelo seu gesto tem direito a um vale de 10% de desconto para gastar aqui na minha loja. Ou, ao deixar as suas peças faz logo a compra e no acto do pagamento eu faço o desconto imediato, o deixa as peças e leva o vale para gastar num prazo de 3 meses.

 

- Eu levo o vale!

 

- Certo. Então a senhora deixa as roupas e eu dou-lhe um vale de 10% de desconto para usar mais tarde.

 

- E depois?

 

- Imaginemos que passado um mês a senhora vem cá à loja outra vez e escolhe uma serie de peças nossas para comprar num valor de 50€, por exemplo, para serem números redondos. Quando vier pagar apresenta o vale e em vez de pagar os 50€ paga 45€ porque tem o desconto dos 5€ do vale, que são os 10% da compra total. Percebe?

 

- Não. Então eu deixo a minha roupa e ainda tenho que pagar?

 

- Deixa a roupa que já não usa e paga o valor que sobra depois do desconto do vale.

 

- Isso não é um negócio muito bem feito! Não acho justo! Então deixo o meu casaco novo e ainda tenho que pagar para levar roupa? 

 

- Se não quiser usar o vale não é obrigada a usar. Pode apenas deixar cá a roupa e nós fazemos ela chegar à Cruz Vermelha na mesma.

 

Nisto já o MC, já farto de rir no armazém, aparece para tentar ajudar e elucidar a senhora.

- O que se passa?

 

- A senhora queria vender o casaco e eu estou a explicar-lhe que não compramos, só aceitamos roupa para a campanha da Cruz Vermelha.

 

- Mas isso não é um negócio muito bem feito, senhor. Se eu fizer isso estou a perder com o vosso negócio! Já viu bem o casaco?

 

- O que a senhora pode fazer é ir a loja de 2ª mão que há mais acima na rua.

 

- Ai há uma loja que compra coisas nesta rua? E como é que funciona, deixamos lá e pagam logo ou pagam quando venderem?

 

- Isso já não sei, só sei que existe essa loja mais no cimo da rua.

 

- Pronto já não é mau. Já me soube dizer alguma coisa!

 

A senhora saí a nossa porta e encontra a cusca do café do nosso lado, que estava à porta já para ouvir o que se passava, e pára para pedir um cigarro.

- A senhora tem um cigarro que me dê?

 

- Não, não fumo.

 

- Mas já viu o negócio destes seus vizinhos? Quem cair nesta conversa vai estar a perder! Olhe o que é deixar este meu casaco e ainda ter que pagar para comprar na loja deles! Onde já se viu? Olhe bem para o casaco, é bonito e está novo, eu é que não gosto dele! Prefiro outro estilo. Mas não vou deixa-lo aqui e ainda ter que pagar. Era o que mais faltava!

 

 

Conclusão, passado uns 10 minutos a explicar a mesma coisa à senhora ela ficou sem perceber nada e ainda foi falar mal à cusca do lado! 

Expliquei assim tão mal?! Hoje só me calham duques!

 

E não podia ter o MC entrado logo e dito que havia uma loja de 2ª mão ao cimo da rua?! Poupava-me a isto tudo...

Até quando é aceitável insistir e lutar?

Até quando?

 

"Janeiro é um mau mês. Fevereiro também não é bom, para além de ser pequeno. Março já melhora de novo." Hoje, a 8 de Março só me apetece responder "tens a certeza?"

 

Desde que abrimos que o mês de Novembro foi o melhor. Nem com o Natal conseguimos ter um bom mês. No inicio do ano, com os saldos, não melhorou também. Não até termos decidido colocar tudo a 5€. Toda a loja. Com esta iniciativa sim, vimos melhorias. Aparecia dinheiro até de onde não havia, para alimentar o consumismo desenfreado da ilha. Vendeu-se até peças que não mexemos no preço por já estarem a 5€ anteriormente. Durante uma semana houve movimento que desconhecia nesta rua e, de manhã, fazia-se fila à porta à espera de abrirmos. Durante uma semana todos ouviam fala de nós. Mas só durante uma semana.

 

Quando já não havia muita escolha, havia quem perguntasse pela nova colecção. O que trazia, quando chegava, a que preço estaria. Nós respondemos com toda a informação que disponhamos. Tentamos deixar os clientes curiosos também, para terem vontade de vir ver a nova colecção assim que chegasse. Todos diziam que vinham na semana seguinte para ficar a par das novidades.

Uma semana passou. Hoje já é 3ª feira da segunda semana, até. Onde está a fila a porta para entrar? Onde estão os curiosos que tanto queriam ver a nova colecção? Não sei. 

 

À mais de uma semana que quase ninguém entra nesta loja. À mais de uma semana que fecho a caixa às 20h quase a sempre a 0€. À mais de uma semana que andamos a ponderar até que ponto vale a pena insistir e lutar por esta loja.

 

Se por um lado sabemos que o Inverno é sempre menos lucrativo e que estamos nesta situação porque abrimos mais perto do Inverno do que do Verão, por outro lado temos consciência que todos os dias estamos a enterrar dinheiro que não é nosso numa loja que não sabemos se irá dar frutos.

 

As noticias que nos chegam do Continente é que lá está igual. As pessoas têm frio e não têm vontade de olhar sequer para peças frescas como as da nova colecção. Que não devemos desistir agora porque nas estações quentes é que se vende mais por isso desistir seria morrer na praia. Que basta os dias aquecerem um pouco para notarmos isso nas vendas.

E nós acreditamos que realmente isso seja verdade, no entanto, como é que se pagam contas com esperança? É muito fácil falar quando já se tem um bom fundo de maneio ganho no tempo das "vacas gordas", mas e quando não se tem, como é o nosso caso? O que se faz quando se olha para a conta e não se tem a certeza que haverá dinheiro suficiente no final do mês?

 

O lógico seria mudar de loja. Claro. Para um local de maior passagem, de preferência. No entanto, para onde, se até nisso estamos a encontrar dificuldades? Nunca na vida nos sujeitaríamos a pagar 5000€ de renda mensal por uma loja, esteja ela onde estiver. Com as margens que nós temos teríamos que vender a loja toda 5x por mês só para pagar a renda. E as restantes despesas, quem pagava? Os senhorios pedem rendas inflacionadíssimas! Acho que a maior parte deles nem sequer tem noção do que está a pedir ou do quão seria difícil ganha-lo. É fácil pedir, pode ser que calhe. E se não calhar mantêm-se fechado, pensam eles. E por isso quase toda a ilha tem espaços fechados. Montras despidas. Ruas vazias.

 

Não sei se vamos aqui ficar muito tempo, sinceramente. Não porque o sonho tenha acabado, mas sim porque é impossível manter sonhos em cima de areias movediças.

Simpatia vinda directamente do Continente!

Assim que abrimos a loja e comecei a atender os primeiros cliente, muito disseram "A menina não é de cá, pois não?". O meu pensamento inicial era que esta pergunta se devesse ao sotaque, ou falta dele. No entanto quando eu dizia que era do Continente, eles respondiam logo "Ah. Nota-se! É tão simpática. Não tem nada haver com as outras funcionárias..."

 

Ouvi esta conversas vezes e vezes. No entanto pergunto-me: elas são sempre assim tão antipáticas? Nunca tive grandes problemas com nenhuma, e também já fui atendida por várias.

 

Eu já estou no comercio desde os meus 20 anos (tenho 27!). Já atendi todo o tipo de cliente (acho eu LOL). A maior parte, felizmente, são simpáticos mas existe muitos que nem nos respondem ao cumprimento. Então, essa antipatia dos funcionários não se deverá também a isso?

 

Ainda agora entraram duas clientes a quem eu disse boa tarde, como digo a todos os que entram aqui. Uma delas nem respondeu. Ofereci-me para ajudar caso fosse necessário, como também faço com todos os clientes e essa cliente que não respondeu ao meu cumprimento diz de imediato "Estamos só a ver, podemos?! Se precisarmos de ajuda sabemos que está ai!"

Ora bem, será esta a melhor forma de dizer que não precisam de ajuda? Sinceramente fiquei sem vontade de atende-la caso precisasse de alguma coisa, mesmo que fosse esse o meu dever. 

 

Assim, não sei de que lado estar quando me dizem que as funcionárias de cá são diferentes, não antipáticas. E os cliente, como são?

Oh, preconceito!

O preconceito é algo que me custa aceitar. Não quer dizer que eu seja 100% isenta de preconceito, mas pelo menos tento! E quando vejo pessoas a ser preconceituosas sem motivo nenhum ainda me custa mais!

 

(na loja)

- A menina só tem roupa para pessoas gordas!

- Não, também temos tamanhos pequenos.

- Não da roupa que eu gosto. A menina até é magra, porque é que compra coisas só para gordas?

- Olhe, essas pessoas queixam-se exactamente do contrario. E eu concordo com elas. Temos muito mais tamanhos pequenos do que tamanhos grandes.

- Não percebo. Essa gente está sempre a queixar-se mas tem aqui muito mais roupa. E gira. Eu vou desistir de vocês, de cá vir!

 

(depois de um desfile)

- Opa, de onde foste buscar aquele?

- Quem?

- Aquele que não sabe andar direito. Nem com aqueles óculos. Ele quase que caia, não viu o degrau!

- Ele apareceu na loja para se oferecer para desfilar.

- E tu aceitaste?!

- Sim. Eu até simpatizo com ele. E eu quero pessoas normais a desfilar para mim, não quero só top models!

- Mas ele não tem postura, nem sabe andar direito!

- Mas tem muito mais palavra do que muitos que apareceram a dizer que queriam ir e não os vejo agora em lado nenhum!